Dos cinco sentidos que aprendemos na escola, dois, são em mim os mais nostálgicos: o olfato e o paladar...
O olfato principalmente... Dezenas de vezes eu me peguei relembrando antigas histórias de minha vida só por causa de um cheiro qualquer que me chegou às narinas... Um certo perfume, que lembra o primeiro namorado... a maresia trazida por um vento diferente, que me faz lembrar as tardes na Praia de Ponta Negra... o cheiro de sargaço queimando ao sol que lembra ao mesmo tempo o veraneio em Itamaracá e os feriados, catando marisco, em Carne de Vaca... o cheiro azedo de mandioca/macaxeira que me remete à minha infância, na fazenda de tia Avani, lá em Lagoa de Itaenga onde a gente brincava na casa de farinha, quando terminava o trabalho das mulheres...
E foi justamente a infância que voltou à minha memória hoje por causa de um gosto... gosto de fruta... de fruta azeda que faz a gente fazer careta... Por causa de um umbu-cajá eu me vi denovo com 10 anos de idade, correndo pelo Clube de Campo Alvorada ou pela Chacará Cantinho da Gente, lá em Aldeia...
Era um tempo em que todos nós éramos primos e primas, independente do parentesco... Nunca tive tantos tios e tias quanto nessa época... Os fins de semana passávamos soltos pelo mato, enquanto os adultos perdiam o tempo deles tomando cerveja, jogando sinuca e engordando à beira de uma churrasqueira...
Nós não... Nós éramos livres... nos divertíamos na piscina, no campinho, no parque, correndo de bicicleta ou em cima das árvores comendo fruta ‘tirada do pé’... Nem fome sentíamos... Também... era um tal de caçar siriguela, jabuticaba, umbu, ingá, maracujá-açu, araçá... Quando chegava a hora do almoço ninguém queria comer, empanturrados que estávamos de tanta fruta...
Transformávamos a chácara em condomínio de luxo, cada um de nós morava numa árvore diferente, que fingíamos ser um superapartamento... uma bela cobertura... convidávamos uns aos outros para jantar ou almoçar e servíamos deliciosos pratos de frutas frescas... mangas, carambolas, jambos, goiabas, pitangas... Um verdadeiro banquete, colhido por nossas próprias mãos...
Eram as frutas de minha infância... Uma infância que não perdi diante dos vídeo-games e computadores, mas passei ralando meus braços e pernas nos troncos longos das mangueiras e dos pés de carambola... Não há fruta mais gostosa do que aquela que se come lá em cima do pé... Sem lavar, sem cortar... rasgando a casca com os dentes... melando a boca e as mãos, principalmente se a árvore é muito alta e você ainda nem tem idéia de como vai fazer pra descer de lá... Sim, porque por causa de uma incrível lei da física, subir numa árvore imeeeeeensa é sempre muito mais fácil do que descer dela...
E todos esses gostos se misturaram em mim, hoje, quando fui ao mercadinho... Nem acreditei quando vi umbu-cajá na prateleira... Claro que comprei... Claro que comi muito... Mas hoje, pela primeira vez, o umbu-cajá também tinha gosto de jabuticaba, siriguela, sapoti, ingá... e de bons tempos correndo solta pelo mato com tantos primos e primas que minha boa infância me deu...
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