3h da manhã, num certo bar, em 0linda... No violão, um samba do Chico... Ao redor, pessoas que entram e saem... Um senhor simpático, pega uma cerveja pra novinha, na esperança de receber em troca algum prazer... Um poeta marginal rouba a atenção dos bêbados durante uma música mal tocada... 0 casal se beija, indiferente ao barulho do bar... Um moço triste fita o nada, enquanto pensa no vazio que habita o seu coração... Aquele, acolá, já não pensa... Apenas absorve os efeitos da erva que acabou de tragar...
0 violão não se cala, como não se calam os corações... E a noite segue e cresce madrugada adentro enquanto os notívagos, acompanhando os acordes do violão, sonham com um troféu abacaxi e com suas almas apaziguadas...
Chico, Alceu, Marco Polo, Zé Ramalho discutem, sem chegar a um consenso... 0 amor é ou não algo engrandecedor? 0 jeito é pedir socorro ao moço do disco voador, que vaga entre as estrelas, observando do alto o ir e vir das paixões incontidas e passageiras...
Mas, então, o sol retorna, ameaçador, e como um muro de arrimo, represa todas as consciências que, antes, vagavam livres pela escuridão... 0s amores não correspondidos, as dores dos corações abandonados, os chifres, o vazio das almas perdidas, a solidão irreparável de cada um serão em breve disfarçados num sorriso de bom dia ao chefe da repartição, ao colega de trabalho, ao cliente que acaba de entrar na loja...
A música se cala... Poetas e trovadores voltam a pensar no ganha pão... As tigresas e pérolas negras se retiram... E o bar fecha!!!
A vida volta a seguir seu fluxo monótono e as pessoas se pretendem novamente normais... E, por um momento, são todos capazes de acreditar que a normalidade seca, fria e triste, reinará de fato em suas vidas insossa e seguras...
Mas só até a lua brilhar no céu novamente e outra madrugada lembrar-lhes daquilo que são capazes de sentir!!!!
Salve a boemia!!!!